30.9.10

Marginal, adeus


de Carlos Reichenbach


1. Que conste dos autos: eu não agüento mais falar desse assunto!

2. Quando penso na época, logo me lembro da música A Whiter Shade of Pale – aquele marco da música pop dos anos 60, que começa com uma "citação" das cantatas de Bach e cuja letra, porralouca e psicodélica, fala de sessenta vestais virgens e outras sandices. É a cara do Cinema Marginal.

Quem pedir hoje a Gary Brooker, autor da música e líder do extinto grupo Procol Harum, para cantá-la, na certa vai ouvir um palavrão. Brooker vem fazendo uma exuberante carreira solo, com pelo menos um CD antológico, Lead Me to the Water (1982), e como keybordista de Eric Clapton. Do Procol Harum, sobraram a história e as antologias (exploradas ad nauseum pelas majors do disco). Deu para entender?

3. Para mim, o Cinema Marginal acabou em 71, com as interdições de Orgia, de Trevisan, e República da Traição, de Ebert, sob a sombra tétrica do governo Médici. Me recuso a enxergar meu primeiro longa metragem (sozinho) Corrida em busca do amor (71) – uma celebração da anarquia – como filme do ciclo; naquele momento, eu já estava em outra.

4. Há um filme emblemático que falta em todas as retrospectivas do udigrúdi. Trata-se de Superbeldades (62), de Konstantin Tkaczenko. Uma sucessão de 12 streap-teases filmados com a câmera Mitchell e magazines de 300 metros de negativo; doze planos-seqüências de oito minutos cada, que fariam inveja à Jean-Marie Straub. O "clássico" é homenageado em O bandido da luz vermelha e no plano final do episódio de João Callegaro em As libertinas. Foi esse filme que nos fez (eu e Callegaro) cair de boca na Boca e mandar a nossa pretensa erudição acadêmica – via São Luiz – às favas.

5. Acho que o embrião do Cinema Marginal surgiu nos corredores da Escola Superior de Cinema São Luiz e nas mesas do vizinho Bar Riviera. Jairo Ferreira, Sganzerla (conterrâneo e amigo de infância de Callegaro), Candeias, Tonacci (que chegou a dar aulas na ESC), e tantos outros, que não eram alunos, freqüentavam habitualmente os dois endereços. Foi num desses encontros que eu ouvi, pela primeira vez, que o país daquele jeito (65/66) só merecia filmes péssimos e mal-comportados.

6. Quem apresentou José Mojica Marins como gênio foi Luís Sérgio Person, na época, professor da São Luiz. A sessão de À meia noite levarei sua alma, na ESC, para os alunos, foi a peneira. Quem babou com o filme virou cineasta.

7. De 67 a 71, o cinema era apenas um apêndice da vida. Filmei meu episódio em As libertinas mais interessado em aplicar as lições do Kama-Sutra com a namorada nas areias da locação, enquanto buscava os ângulos mais absurdos para filmar cavalos e excrementos na praia. A badaladíssima dos trópicos (meu episódio em Audácia!) trouxe para trás das câmeras tudo o que os personagens consumiam na frente, e vice-versa.

Naquele momento, para mim, a vida era mais interessante que o cinema.

8. O inventário do Cinema Marginal já foi escrito; Cinema de Invenção, de Jairo Ferreira. O resto é diluição.

9. Sem demagogia: na época, bons eram os filmes dos meus amigos. O bandido, Bang-Bang, O pornógrafo, Orgia, Meteorango, A margem, Ritual dos sádicos, A mulher de todos, o episódio de Sebastião de Souza em Em cada coração um punhal, À meia-noite, Esta noite, Tonho, O anjo nasceu e Perdidos e malditos são obras-primas.

10. As libertinas e Audácia! são ambos a mesma merda!

Moral da história: nunca fui marginal, sempre fui independente."



Intervenção Artística na Semana Ousada de Artes UFSC-/UDESC



Texto de descrição do vídeo no Youtube: - viva a liberdade de expressão!

"Beto Chaves, foi preso por atentado ao pudor, dentro da UFSC em frente ao RU, quarta dia 22 de setembro, pelos seguranças dessa instituição, só porque seu ato performático consistia em estar enrrolado na bandeira do Brasil, com uma gaiola enfiada na cabeça, e em um determinado momento a bandeira caia e deixava exposto o paradigma da genitália, que é o corpo nu como realmente somos, despido de marcas e trapos que tapam e são caros.

Resultado, sua performance que tinha mais de duas horas só pode percorrer 30 minutos.

A voz de prisão, em nome da lei da hipocrita moral judaica-cristã estava deflagrada dentro da instituição de ensino maior do Brasil.

Porque o corpo agride muito mais do que as palavras?

A resposta é o controle das instituições sobre o nosso desejo e liberdades. Ser livre é subverter todas as formas de poder, é se autoconhecer.

Estamos em processo contínuo. O que resta que não é pouco é só simulação."

22.9.10

Lascaux

O complexo de cavernas de Lascaux é mundialmente conhecida pelas suas pinturas rupestres. Pinturas estas impressionantes, pelo grau de dificuldade em fazê-las e obviamente pela antiguidade (chegando até a 17 mil anos antes do presente). Picasso mesmo afirmou, após vê-las, que o homem não havia aprendido "nada" em pintura desde então.
Pois então, diante de tamanha grandiosidade e curiosidade, o Ministério da Cultura Francês decidiu por criar uma versão online da visita à gruta em altíssima definição. Um tour muito interessante, com todas as estruturas e com uma qualidade de imagem e relevo impressionantes. Somente vendo para entender.

21.9.10

Textos de Jairo Ferreira



Jairo Ferreira, um monstro do cinema nacional - meu ídolo desde que vi 'O Vampiro na Cinemateca' - é muito conhecido também por suas críticas em jornais de renome como a Folha de São Paulo. Este blog 'Cinema de Invenção' contém diversos textos de Jairo com data e fonte. Excelente trabalho realizado, verdadeira utilidade pública. Não deixem de prestigiar.

Eu quero voltar pras estrelas



Como disse Albert Einstein: 'Copérnico ensinou o homem a ser humilde.'

De brinde, fiquem com esta música, trilha-sonora perfeita ao vídeo acima, da maravilhosa banda Pão com Manteiga: Micróbio do Universo.



20.9.10

"Direito de autor? Um autor só tem deveres"

Jean-Luc Godard é mesmo um gênio. Demonstrou mais uma vez ao mundo, criticando o projeto de lei francês Hadopi - que prevê uma internet regulada e 'respeitando' o popular copyright -, atacando o sistema de herança, e indo mais além: ajudando financeiramente com mil euros James Climent, fotógrafo francês multado em 20 mil euros por ter 13 mil músicas baixadas ilegalmente.

Sinceramente, ainda que pra muitos pareça que Godard perdeu o juízo, insisto em dizer: ele está mais lúcido que nunca. E coberto de razão. Um artista precisa e deve ser valorizado por sua obra, que por sua vez a partir do momento em que se anuncia, não depende mais deste autor. Virou obra da humanidade, que tem o direito de compartilhar conhecimento, de se ajudar mutuamente, de não aceitar a cobrança pela arte. Uma produtora que processa um homem por ele ter compartilhado músicas em redes sociais é imoral e hipócrita. Explora seus músicos e seu público, e merece sair do mercado. A arte precisa sair do mercado.
Repito, ainda que soe utópico: o artista deve receber da sociedade seu sustento, como forma de retribuição a sua obra-social que vira automaticamente domínio público. Por quê continuar no sistema de propriedade privada se poderíamos com nossa inteligência nos ajudar mutuamente?

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Fiquem com a notícia original abaixo:

Acusado de baixar mais de 13 mil arquivos de mp3 ilegalmente, um fotógrafo francês encontrou uma ajuda inesperada em sua defesa contra a indústria fonográfica: Jean-Luc Godard. O diretor francês doou mil euros para bancar parte dos custos legais de James Climent, de 37 anos, condenado a pagar multa de 20 mil euros, segundo o jornal Libération .

Godard soube da história por um artigo no próprio Libération e resolveu ajudar. No primeiro contato, Climent achou que estava sendo vítima de um golpe, mas logo viu que era realmente seu grande herói quem queria ajudá-lo. Godard já havia revelado uma posição fortemente favorável ao compartilhamento de arquivos pela web. Em uma entrevista ao site InRocks , disparou "direito de autor? Um autor só tem deveres".

"Eu sou contra a Hadopi (projeto de lei francês de controle da internet), é claro. Não existe propriedade intelectual. Sou contra a herança, por exemplo. Os filhos de um artista deveriam se beneficiar dos trabalhos do pai até, digamos, que atinjam a maioridade. Depois disso não é claro para mim porque os filhos de Ravel devem receber qualquer renda pelo Bolero...", disse o diretor de "Acossado".

Segundo o artigo original, os problemas de Clement começaram em 2005, quando ele criou o hábito de baixar músicas em programas p2p. Poucas semanas depois policiais apareceram em sua casa e ele acabou condenado a pagar 20 mil euros para a SACEM e a SDRM, sociedades que representam os detentores dos direitos autorais.

Mesmo tendo perdido a apelação ele se nega a pagar a multa. Defendendo a "cultura da partilha", disse que essa é uma questão de princípios e levou o caso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

- Eu tinha 13.788 arquivos de mp3 em meu disco-rígido quando a polícia apareceu. Hoje tenho mais de 30 mil - afirma ele ao jornal, em tom provocador.

Em agradecimento ao cineasta, o fotógrafo publicou um post em seu blog entitulado "God(ard) bless us", apresentando um balanço das doações já recebidas para ajudar em sua defesa nos tribunais. Segundo Climent, foram 104,38 euros pelo PayPal, 19,24 pelo Flatrr, entre mil e 1.200 euros de uma ONG e os mil euros de Godard."

9.9.10

D-Efeitos



Gravação da apresentação do grupo D-Efeitos, ganhador na modalidade dança de rua do 28º Festival de Dança de Joinville - SC. Eu achei aqui!

Arnold Layne - Pink Floyd [2]



Outro inspirador videoclipe de Arnold Layne, Pink Floyd (formação com o gênio Syd Barrett, destaque no clipe).

7.9.10

The Mind Expanding Festival

"Nos dias 18 e 19 de Setembro acontecerá a 3ª. edição do ‘The Mind Expanding Festival’, módulo psicodélico/progressivo, que reunirá 4 guitarristas brasileiros e seus respectivos grupos no Centro Cultural São Paulo.
Em sintonia com a música instrumental contemporânea, o festival é resultado do movimento de várias bandas que primam pela diversidade sonora. Esta terceira edição é dedicada a guitarristas de várias vertentes, explorando as diferentes sonoridades da guitarra elétrica. Estão presentes o som pesado e progressivo de Hélcio Aguirra e seu Mobilis Stabilis, a psicodelia e texturas sonoras de Fabio Golfetti com o trio Band Of Pixies, o jazz contemporâneo de Michel Leme Trio e o lendário Lanny Gordin, ao lado do grupo Kaoll. Quatro vozes distintas de um mesmo instrumento, apresentando-se na Sala Adoniram Barbosa nas duas noites do festival."

Então, diante dessa oportunidade única de se ouvir um bom rock psicodélico/progressivo com gênios da guitarra, fica a divulgação gratuita.



Informações:
Local: Centro Cultural São Paulo – Rua Vergueiro, 1000 – São Paulo/SP
Data: 18 e 19 de Setembro de 2010
Horário: Sábado (18) às 19h/Domingo (19) às 18h
Ingresso: R$15,00 – Pagamento: Cheque / Dinheiro – Venda de ingressos no local 1 hora de antecedência
Site: www.centrocultural.sp.gov.br


6.9.10

Arnold Layne - Pink Floyd



Uma das versões de videoclipe da música Arnold Layne, do Pink Floyd. Very good trip.

5.9.10

Revista Macrocosmo


Estava navegando pelo Astronomia Amadora.net quando achei esta postagem com 29 edições da Revista Macrocosmo para download. Para quem não conhece, a Macrocosmo é uma publicação digital, pioneira na divulgação da Astronomia no Brasil. De excelente qualidade, a revista já possui três anos e é referência na área. Bom, diante de três anos de revista para ler, upei também em nosso 1º Acervo de downloads, para quem quiser.

4.9.10

Revista da Ocupação Rogério Sganzerla

Revista oficial da Ocupação Rogério Sganzerla, exposição de filmes, documentos, roteiros, etc promovido pelo Itaú Cultural, que aconteceu em julho na cidade de São Paulo sob curadoria do também cineasta Joel Pizzini - ahh como seria bom se fosse pra outras cidades -.
A publicação possui textos e críticas acerca da obra de Sganzerla por estudiosos e críticos de cinema, como Hernani Heffner e Roberto Moreira S. Cruz, assim como o Manifesto do Bandido da Luz Vermelha, a filmografia de Sganzerla, entre outros artigos. Muito bom!

Ah, descobri também que o próprio Itaú Cultural upou a revista na rede, e em sua página no Issuu tem também outras revistas e periódicos de mostras e exposições, como a de Hélio Oiticica. Aproveitem.


Ps: vejam que na página do Issuu tem-se a possibilidade de fazer o download em pdf!

2.9.10

Entrevista com Linus Torvalds



Linus Torvalds, criador do Linux, veio ao Brasil pela primeira vez, em viagem de lazer para Fernando de Noronha. Mas antes concedeu entrevistas à imprensa. Esta acima é do portal G1, pertencente a esta reportagem.
Maravilhoso o que Linus diz, de seu intenso amor à computação, e do desejo de um conhecimento livre. Sistemas operacionais livres são um passe importante em favor da democratização, e do avanço do conhecimento humano. Afinal, como Linus diz, é muito melhor você ter o poder de programar do jeito que quiser um software ou sistema, divulgando possíveis descobertas à comunidade.

Isaac Asimov e o futuro da educação



Entrevista com o escritor Isaac Asimov, onde o mesmo fala sobre a internet e o provável futuro do aprendizado. Com redes virtuais de conhecimento - livres e democráticas, que substituiriam boa parte das escolas de hoje em dia. Em muito me fez lembrar o nosso modesto Barco, que tenta espalhar doses de conhecimento. Então assistam acima ou no Youtube, oito minutos de previsões de liberdade. Ps: Creio que tirei do twitter do Fly.

1.9.10

TRÊS ANOS D'O BARCO BÊBADO!

Entre mares, chegamos ao triênio! Mesmo com meses ausentes, e outros de grande tráfego, continuamos remando lentamente. De lá pra cá pouco mudou em meu pensamento, mas diante de tantas promessas estapafúrdias dessas campanhas anti-políticas, não ficarei divagando sobre o futuro que o Barco terá, de nada adiantaria.

Prefiro então agradecer a todos os tripulantes, argonautas e entusiastas que interagiram conosco nesse tempo. Vida longa a'O Barco Bêbado! Um brinde!