19.8.11

NY NY, Huxley e uma experiência visionária



Curta-metragem NY NY do diretor Francis Thompson (1957); e um comentário de Aldous Huxley, nos apêndices de seu livro Céu e Inferno.



"E há, ainda, o que poderíamos chamar de Documentário Deturpado - estranha forma nova de arte visionária, admiravelmente exemplificada no filme N Y N Y, de Francis Thompson. Nessa película, realmente esquisita e bela, vemos a cidade de Nova York sob as mais bizarras formas: fotografada através de prismas multiplicadores ou refletida na convexidade de colheres, nas calotas das rodas e automóveis, em espelhos esféricos e parabólicos. Nele ainda somos capazes de reconhecer casas e pessoas, fachadas de lojas e carros de praça, mas tudo isso como meros elementos dessas formas geométricas animadas, tão características de experiência visionária. A criação dessa nova arte cinematográfica parece prenunciar (graças a Deus!) a invalidação e a morte próxima da pintura abstrata. Os pintores abstratos costumavam dizer que a fotografia colorida reduzira o retrato e a paisagem clássica à categoria dos absurdos inúteis. É fora de dúvida que isso é inteiramente falso. A fotografia colorida apenas registra e conserva, sob forma fácil de reproduzir, as matérias-primas com as quais o pintor de retratos e o paisagista trabalham. Usado tal como Thompson o fez, o filme colorido faz muito mais coisas, além de registrar e preservar a matéria-prima da arte não-representativa; na verdade, ele se transforma no produto acabado. Assistindo a N Y N Y , fiquei surpreendido por ver que praticamente cada artíficio criado pelos Velhos Mestres da arte abstrata e reproduzido até causar náuseas pelos acadêmicos e maneiristas dessa escola durante os últimos quarenta ou mais anos, surgiu vívido, brilhante, intensamente atraente nas sequências do filme de Thompson."



Apêndice III do livro Céu e Inferno, de Aldous Huxley

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Um comentário:

Anônimo disse...

I couldn’t resist commenting