Uns meses antes de fundar esse blog, o nosso Barco Bêbado, eu fundei com Nicolas um blog de download de discos, o Rock Polar (por favor não digam que não sabem o porque do polar);
Então, como eu comecei a achar que ficar apenas nesse tema não iria me satisfazer, pensei em criar uma filial: mais cultural, com textos, outros temas, etc. Fugir. Pois bem, a idéia foi boa e o post inicial maravilhoso (ainda que feito às pressas e sem cunho técnico).
Era um artigo sobre o show dos Mutantes dia 17/03/07, em Curitiba - onde resido hoje . O show foi marcante, intenso e digno de um artido, um relato, um depoimento sobre aquilo que foi inesquecível. A volta dos Mutantes muito iluminada, o público maravilhado e o extâse.
Então, resumindo, o Rock Polar Cult teve pouquissímas postagens, foi abandonado e a única coisa que presta que restou é essa postagem desse show. Que vou repostar para vocês. Esse post ficará enorme, mas vale a pena.
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Arnaldo Baptista e Zélia na foto. Quem não foi no show, não vá perder o próximo ;)
E mais uma inauguração na nossa recente família! Nasce agora o Rock Polar Cult, paralelo e filial ao Rock Polar, entretanto, não sobre downloads de álbuns, e sim sobre quaisquer assuntos. Para a inauguração, vou falar sobre o inesquecível show dos Mutantes em Curitiba, neste último dia 17/03. Cheguei acompanhado de dois amigos em torno das 11 horas. O ambiente, Curitiba Master Hall, apesar de não ser muito grande, era agradável e já estava ficando cheio. No ar, ouvia-se antes do show uma série de músicas, desde Janis, The Doors, até uns sons mais pesados, mas tudo de muito bom gosto. Até que então o som se interrompe para a chamada da tão esperada hora: quando Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Zélia Duncan entrariam no palco. Assumo que não estava convencido com aqueles shows em Londres de que a Zélia daria conta do recado, mas já na primeira música, me arrepiei. Dom Quixote, tocada de forma magnífica, com os vocais da Zélia afinadíssimos, os irmãos Baptista arrebentando tudo o que podiam! Eu gritava! Gritava de exaltação! Um sonho estava sendo realizado, ir à um show dos Mutantes, a lendária banda dos anos 60 e 70, que finalmente reapareceu, para minha felicidade! Eu sei que alguns podem reclamar da ausência da Rita, acho ela uma ótima cantora, mas tenho que assumir que a Zélia fez muito bem seu papel! Depois do fim da música, percebi porque Arnaldo realmente é um ser único, conseguiu agradecer de forma ímpar, só vendo pra saber! Eu, sem que ninguém tivesse me influenciando, comecei um coro de gritos: -Arnaldo! Arnaldo! Arnaldo!. E lá estava ele, a menos de 5m de mim, e mesmo assim, com eu iniciando o coro, nem se quer me viu. Mas pelo contrário do que se possa imaginar, cada vez eu ficava mais e mais excitado com aquele idéia que estava tão perto dos Mutantes. E então que começa a segunda música, Caminhante Noturno, mais um clássico sendo tocado nos últimos volumes das caixas de som e de forma brilhante! Após ela veio Ave, Gengis Khan; que para mim, foi a pior música do show, e mesmo assim, já valeu a pena e muito ter ido até Curitiba para ver o show. Sabe, eu sou de Santa Catarina, Videira; e meu colega de blog de Caxias do Sul -RS; somente eu fui no show, e lhes digo, valeu cada centavo. Após uma breve parada, começam a toca Technicolor, que pareceu ser o lema deste show. Íncrivel como tudo ia perfeitamente bem, nem eu acreditava no que estava acontecendo. Um coro se formava no fim de Technicolor, com Sérgio agitando a galera, e Arnaldo só com a sua presença fazia muito mais do que isso. ''Vá embora e feche a portaa, tenho frio, ahá ahá há, Vá embora antes que eu chore'' Vírginia parecia melhor ao vivo do que no próprio estúdio. O coro aumentava cada vez mais, até os próprios Mutantes se assustavam com o público, não havia uma música que não fosse cantada por todos. E depois dessa música mais calminha, veio uma pra arrebentar com tudo, Arnaldo e Sérgio cantando Cantor de Mambo, e ao fundo só se ouvia os gritos de 'Mambo! Mambo! Mambo!' do público! E Sérgio ressuscita sua velha guitarra de forma genial, faz um solo à la Hendrix que me arrepia o show inteiro. El Justiceiro chácháchá! Outra música pra animar a todos, e em especial aos próprios Mutantes. Se ainda tem alguns que pedem se a volta foi boa, simplesmente olhe para o rosto do Arnaldo durante o show que essa pergunta se torna uma blasfêmia. A prova da Zélia talvez foi Baby, tocada logo a seguir, a qual ela fez o principal vocal, e a música não é fácil. E lhes digo, sensacional! O coro estava demais também, quase tão alto quanto eles próprios, DIVINO! Desculpe, Babe; também cantada brilhantemente pela Zélia, e com o refrão mais legal de todos: eu vou correndoo, buscaar a glóriaa, minha glóriaa. Até que vem o auge de animação do show: Top, Top. Cara, mesmo vendo o vídeo que eu fiz, já é de arrepiaaar! Você estando lá então, nem palavras, nem reações, gritar e gritar, com pausas de 'nossa, eu estou no show dos Mutantes :O', e uma cena memorável: a Zélia quase caindo no chão quando grita com todo pulmão 'Top Top Top HUU'. Do meio dos músicos de apoio, sai um cara com um baixo e com o negócio que toca violino (perdoem-me leitores, mas a preguiça não deixou que eu achasse o nome), senta-se no chão, e começa Dia 36, outra música linda dos Mutantes. Nessa, Arnaldo ia fazer o vocal, mas até metade da música seu microfone teve problemas, e só no fim da música ele pôde realmente cantar, mas nada disso tirou a graça da música. Fuga Nº II, com vocais da Zélia foram outro show a parte, pareceu mágica no meio do show. Uma mágica de me fazer bem, é, sem dúvida, foi o melhor dia da minha vida. E no meio de tanta música brasileira e um pouco de inglês, vem o charme do francês, Le Premier Bonheur du Jour, para mim foi uma das melhores músicas do show, a única parte ruim realmente é que não teve o coro do publico, por motivos obvios, rsrs. Agora ver os Mutantes cantarem 2001 em pleno 2007 era algo que nem o mais otimista dos homens iria imaginar! E creia que ficou muito, mas muito bom mesmo! Até mesmo aquele ar caipira que a música parece mostrar em estúdio, permanece. Lindo, lindo. E então vem a tão esperaaada hora! Nossa, quando começou a tocar, eu não acrediteei! Eu não acreditava que estava ouvindo talvez uma das minhas músicas favoritas, AVE LÚCIFER!, ao vivo, com os Mutantes! Cara, nesse momento, foi pra mim um momento de pensar em tudo um pouco, e aproveitar cada minimo segundo possível, foi realmente uma revolução dentro de mim mesmo. E então, nessa confusão mental e física em que eu estava, vem o hino de qualquer louco do mundo, Balada do Louco, '..dizeem que sou loucoo, por pensaar assim, mas sou muuito loucoo, por eu ser feliz..' aaah que nunca cantou esse refrão que atire a primeira pedra. Delírio total da galera, dos músicos, dos Mutantes, DE TUUDO! Nessa hora eu realmente achei que o Arnaldo ia começar a chorar, de tão emocionado que ele estava, todos estavam, mas ele em especial, e sabia retribuir de forma genial a cada elogio que recebia. Meus ouvidos doíam de tão alto estava o som, eu estava ficando surdo já, extremamente cansado, e mesmo assim extremamente feliz! E eles vem embalados, com Ando Meio Desligado meio português meio inglês muito mais do que sensacional!! Sérgio e a Zélia se abraçam para cantar, dançam, é emocionante! Solos arrasadores, vocais exaltados, tudo como deveria ser, isso é Mutantes! ' OOH MEU BRASIL!' como final da música, sem mais comentários. E então o clááásico de Jorge Ben, eternizada na voz dos Mutantes, A Minha Menina, com Arnaldo cantando, lindoo, um clima super auto-astral, todo mundo cantando até ficar sem voz, tudo perfeito perfeito! O show oficialmente havia acabado. Mas como assim acabado?! Não, não! Apesar dos Mutantes ja terem saído do palco, a galera gritou em peso: 'Mutantes! Mutantes!', e eles do nada resolvem voltar, atendendo aos pedidos do público que foi tão fiel durante todo o show. Me pareceu uma forma de retribuir pelo todo carinho durante o show. Voltam cantando o clássico da Tropicália, que não poderia faltar de jeito nenhum: Bat Macumba êê, Bat Macumba OBAA! A percussão tomando conta de tudo, o público não acreditando que eles voltaram para tocar Bat Macumba, Arnaldo cantando e tocando de um jeito que só vi Ray Manzarek fazer certa vez, e claro, não ao vivo :P. Todos em sincronia, parecia o fim do mundo, realmente. E meu deus, num enorme grito dentro de mim mesmo: 'todas essas maravilhosas musicas são mesmo da mesma banda?' daí me lembrei, SIM!, são os Mutantes. E ouço um som familiar, bastante familiar, realmente muito familiar, a primeira música que eu ouvi dos Mutantes, e voce sabe que a primeira a gente nunca esquece! Panis Et Circenses, a música mais conhecida dos Mutantes talvez, perfeito, magnífico, DEMAIS!, GENIAL!, DIVINO! não sei mais quais adjetivos dizer, é demais pro meu pobre coração.. e mais de 7 minutos de Panis, que foram um verdeiro extase dentro da veia. E quando o show realmente parecia acabar, eles se juntaram, agradeceram novamente, ao som de 'Mutantes! Mutantes!', Arnaldo brincava em palco e também recebia gritos, todos se abraçavam, o sonho parecia acabar. Eles saíram.. as luzes se apagaram.. a música de antes do show começou a tocar.. mas aí que algo fenomenal acontecee, nem mesmo eu poderia acreditar, todos, inclusive eu começam a vaiar a música, e a gritar mais alto que a propria música 'MUTANTES! MUTANTES!', com todo ar do pulmão! Pessoas dos camarotes gritavam para ninguem desistir! Para todos ficarem ali gritando, ninguém sabia ao certo porque, se o show havia acabado.. mas todos ficaram, talvez porque finalmente tinham realizado um sonho e não queriam que acabasse tão cedo. E então que no meio da escuridão eu vejo Sérgio Dias e Zélia Duncan chegando por detrás do camarim. Os gritos foram demaais, o alarde foi real, os músicos de apoio voltam também. Apenas Arnaldo fica, e mesmo com os gritos pelo nome dele, ele não volta, estava cansado demais já. Zélia chega ao palco e diz: ''Voces não querem que a gente vá embora hoje né não?! Esse show foi o melhor, inesquecivel! Então o que voces querem que a gente toque?!'' Eu não acreditava em mim mesmo, a Zélia dá uma olhada pro Sérgio tentando descobrir o que iriam tocar, e nem mais nem menos, ouve-se uns acordes e um voz rouca cantando: I Want Yooou, I want you so heavyyy.! Era Sérgio Dias cantando o classico dos Beatles I Want You, uma música lisérgica muito adequada pro momento, mas logo Zélia corta o barato dele. E começam a tocar Technicolor, novamente, como lema do show mesmo. Mas com mais intensidade, mais corpo, mais alma, de todos, de tudo, tudo parecia o fim e o começo, era nada mais nada menos que MUTANTES!
E sim, quando o show finalmente acaba, não havia um só sorriso que não estivesse de orelha a orelha, e nem um só ouvido que não tivesse doendo mas com prazer, de tanto som. E de alma lavada todos vão indo embora, pensando que realmente, como disse certa vez: OS MUTANTES SÃO A MELHOR BANDA PSICODÉLICA DO MUNDO!
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