13.2.10
Nuit Blanche: Eufemismo do que virá a ser o Cinema?
Explico-me. Afinal imagino que alguns de vocês já devem ter me questionado diante do título. A alguns dias a blogosfera brasileira (talvez mundial, não sei) vem dando destaque a um curta-metragem premiado chamado 'Nuit Blanche'. Realmente a uma primeira vista qualquer um considera-o maravilhoso, até mesmo eu. Pelo slow-motion, pela fotografia, pelo forte tema. Como todos já disseram por aí.
O curta é de uma história bastante simples, um homem que vê uma mulher (supõe-se ser sua amada) num restaurante do outro lado da rua, e então num impulso sobre-humano vai ao encontro dela, que por sua vez vem ao seu encontro. Ela quebra a vitrine com a própria face, enquanto ele anda pela rua, chegando a chocar-se com um carro mas sem sofrer nada (o carro, em verdade, é que se destrói). Isso num slow-motion belíssimo em preto-e-branco. Ao se encontrar deveras, beijam-se com os cacos de vidro envolta dos mesmos. Lindo.
Então que para mim, estudioso do Cinema, veio a pergunta mais óbvia: 'como fizeram isso'; e a resposta também foi bastante óbvia: nos vídeos relacionados no Vimeo, havia o making-of do curta-metragem. Então lá vou eu, ver o making-of.
Faço uma pausa para afirmar que devo ser muito purista em relação às artes, mas senti-me verdadeiramente mal vendo este making-of. A frieza em que é desnudado que, por exemplo, nem sequer o topo das casas é verdadeiro (montagem de diferentes telhados, que reunidos formaram o que está no filme), assim como a própria farsa do encontro amoroso. Não tem amor, é frio, é estático, beira ao ridículo. Tudo no filme, exceto os dois personagens (que mais parecem bonecos de cera, quando in locus no set), foi criado por um computador. Não digo que não tiveram trabalho para compor aquelas belas imagens totalmente em softwares, mas se o que é mostrado é a exaltação máxima da Vontade humana diante do mundo que o cerca pelo Amor, de forma a dar a capa à tapa (sofrer todas as consequências), ou no caso, quebrar um vidro com essa mesma cara - não, não creio que é certo fazer como foi feito.
Bem, pode-se pedir como então fariam. Eu respondo que não sei. Preferiria quebrar meu nariz, eu mesmo, indo em direção a um vidro real a utilizar desse recurso num filme tão emocional. Compondo este texto, me deparei com diversas questões capciosas. Afinal, até onde vai o fazer artístico em prol do público, ou em prol do resultado final? É isso que querem os críticos, jurados e mesmo estes espectadores? Parece-me que sim. O curta em questão foi premiado, tem uma enorme visitação na internet e está sendo aclamado por onde vi. Mas isso não invalida o que digo.
Até onde é bom utilizar os recursos gráficos digitais? Talvez até o máximo que eles suportem. Mas eu não pretendo estar num mundo onde o Cinema, a visão dos homens, seja mero fruto de um imaginário irreal e construído em prol da catarse de um público, que por sua vez, agradece por ser enganado. Se a Arte é o reino das mentiras, talvez não deveria ser o reino da falsidade. Parece real, mas não é. Por sua vez, em linguagem técnica, não é animação e não é captação. É filme, sim. Um filme que merece ser aplaudido de qualquer forma, mas que merece um texto como esse para alertar aos futuros cineastas, como eu, de que talvez resultados não sejam tudo. Diferentemente do que me propõe alguns professores de Semiótica e de Análise Fílmica, a feitura é importante, é parte do filme e importa não só pro artista como pro público, na dialética que deveria ser a mídia.
Desejo ver a opinião de vocês, tripulantes ou visitantes, a concordar ou discordar. O importante é dialogar.