10.9.09

Belzebu, Um "Demônio" De Virtudes Divinas

olá visitantes, me chamo José e sou novo membro do barco bêbado. em breve falarei mais de mim mesmo.

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Belzebu é múltiplo e goza de fama duvidosa nos dias atuais. No entanto, como tudo o que foi tangido pela cristandade e outras religiões fundamentalistas, contaminou-se. Documentos históricos comprovam que muitos deuses pagãos de ampla adoração e respeito na Antiguidade foram reduzidos a reles demoniozinhos" pela oportunista propagação do cristianismo. Qualquer deus que não fosse ligado à fé cristã era imediatamente catalogado pela Igreja como demônio. Ao se fazer referência às qualidades do espírito, as palavras gregas "agathodaemon" significa "bom espírito" e a palavra "kakodaemon", significa "mau espírito".



Belzebu, só para começo, não é o "Diabo" cristão; não é diabo nenhum! Se você não acredita nestas palavras imbuídas de algum embasamento histórico e filosófico, melhor parar por aqui. Aliás, para quem acha que "tudo o que não é Jesus, é o Diabo", melhor não pesquisar porque a ignorância pode lhe cair bem. O nome Belzebu deriva de muitos nomes similares e é semelhante a outros deuses também: Ba´al, Bel, Baal Zebub, Bile (irlandês), Beli (galês), Bellenos (celta), Belphegor (arquidemônio solar), Baldur, etc. O fato é que Belzebu é muito mais do que um simples demônio e não está sob conjuro de nenhum deus contemporâneo ou do passado. Ba´al era o deus maior do panteão canaaíta, até que, por conveniência histórica e interesse político-religioso (o pior dos interesses!), ele foi apontado como aquele que "tentou" Jesus Cristo, prometendo-lhe "todas as coisas, todos os reinos do mundo" caso ele abondonasse seus propósitos espirituais.

Em 1928, foram encontradas ao norte da Síria as tábuas de Ugarit. Ugarit foi a maior cidade da Era do Bronze canaaíta. Essas tábuas continham cinco colunas, entalhadas com escrita uneiforme, similares às encontradas na região da antiga Suméria e Acádia. O tempo estimado que estas tábuas estiveram enterradas era de aproximadamente 3200 anos. Elas narram o mito de Ba´al, um Deus que lutava pelo seu povo, que vivia nas alturas, mais precisamente nas nuvens, e de lá lutava pela humanidade e travava guerras com quem quer que desafiasse seus domínios. Nessas tábuas, Ba´al era chamado de "Cavaleiro das Nuvens" ou ainda, "Monstro Nuvem" ou "Senhor da Casa Alta".

A palavra "Baal" significa "Senhor" e aparece sempre ao lado de El, que significa "deus", em hebraico. Sua esposa Anath, hoje conhecida como Astarté também é mencionada durante toda a saga escrita nessas tábuas. Infelizmente por causa da ação do tempo, esses tesouros arqueológicos sofreram desgastes e muita coisa não é possível interpretar.

Baal é ainda o arquidemônio da qlipha A´Arab Zaraq na Árvore da Morte cabalística. Ele é o deus fenício da fertilidade e da sabedoria. Essa qlipha conhecida também como "Corvos da Dispersão" ou "Corvos da Morte", é o lado sombrio da sephira Netzach onde está representada a prática da Magia Sexual (Mão Esquerda) e Luciferiana.

O arquidemônio Belphegor está na hierarquia infernal da Cabala mais como uma manifestação da energia planetária bruta, primitiva e desorganizada na humanidade, ou seja, está acima da incapacidade humana de lidar com suas próprias fraquezas. Baal-Peor (variante assíria de Belphegor) era um deus moabita cujo nome significa "Senhor do Peor", um monte à margem esquerda do rio Jordão, onde era cultuado. Os hebreus eram bastante apegados ao dual Baal-Peor (ele tinha o aspecto masculino do Deus Solar, e feminino, de Deusa Lunar).

O correspondente egípcio de Baal era Amon, deus da luz e do Sol, da força, da saúde, da justiça, da verdade, da vida e ainda criador e organizador do Mundo. Baal também possui os atributos de deus solar ligado ao homem pelo seu poder de cura, o dom da profecia e representa a mortalidade. Nas festas da Roda no Ano, temos o sabá Beltane ou a Festa do Fogo de Bellenos.
Bellenos, arquétipo celta de Baal, era um deus solar da cura, da fertilidade do fogo, e da prosperidade, que marca o início do verão ou dos dias de Sol. Os antigos acreditavam que existiam mesmo duas estações do ano e não quatro como conhecemos hoje. Nessa festa, era celebrado o apogeu da fertilidade de Bellenos e o alcance da maturidade na união dos opostos que se amavam na totalidade do Cosmos. Essa comemoração selava também a semeadura no ventre
fértil da terra, para as futuras colheitas. É nessa época que são feitas as danças circulares ao redor dos mastros com fitas coloridas (que representa um grande falo), chamada Maypole. E o sabá justificava muitos casamentos no hemisfério norte naquela época, no equinócio de primavera.

Ao contrário do que se ouve sobre o implacável Baal ou Belzebu, Baldur era puro de bondade. Baldur também era um deus da fertilidade, da fartura e da luz (acreditem, ó "temerários da luz"!), enfim, reunia todos os poderes crísticos de um genuíno espírito solar.

"Belzebu" tem em seu radical também a presença de uma palavra que faz alusão a uma outra faculdade de Belzebu: Zebub. Ou seja, Baal = Senhor, Zebub = das Moscas ou do Escaravelhos, ou, mais genericamente, "das Coisas que Voam", já que sempre fazia referências às criaturas aladas. A palavra "Zebub" faz referência também ao escaravelho egípcio (kepheri) que simbolizava a imortalidade e a reencarnação no Egito Antigo. Era utilizado nos rituais de desencarne dos faraós e é mencionado inclusive no Livro dos Mortos Egípcio. Nos corpos de alguns animais embalsamados, foram encontrados escaravelhos no local do coração.

No Mito de Ba´al narrado nas tábuas de Ugarit, tendo em vista que a referência feita a ele como Cavaleiro das Nuvens, não são injustificados seus outros significados.

No livro "Histórias de Belzebu a seu Neto", o ocultista Gurdjieff apresenta uma compilação numerosa de crônicas onde mostra um Belzebu extraterrestre, vindo de outra galáxia, que instalou-se em Marte, teceu seus planos para a Terra, conheceu Vênus e que fez várias descidas ao nosso planeta. Esse Belzebu conta a situação de evolução da humanidade com seus triunfos e
percalços. O Belzebu de Gurdjieff participou também dos processos de ascensão e queda das raças da Terra.

Uma possível hipótese é que ele seja uma inteligência extraterrena, até pela aparência dita grotesca aos olhares desprevenidos, em diferentes relatos. Caso contrário, por que tantas referências a um ser tão diferente de nós - cauda, chifres, corpo grande e cheio de pelos, e a-l-a-d-o?! Belzebu pode ter sido sim um ser muito evoluído (com ou sem corpo físico), fortemente instruído e que sabia exatamente o que fazia quando lidava com o material
humano de nosso planeta.

Na tradução d´A Pequena Chave de Salomão - Goetia, de MacGregor Mathers, editado por Aleister Crowley, Baal aparece como Bael. Desnecessário dizer que difere da criatura que encontramos em um passado mais remoto, mas ainda assim é o mesmo espírito ao qual este texto refere-se.

Para Samael Aun Weor, Belzebu é um espírito errante do passado, hoje redimido, conforme relata no quase romanceado "A Revolução de Belzebu". Este foi feito com o intuito de expressar através de Belzebu a escolha do mago entre um caminho que escraviza e outro que liberta. Mas é preciso admitir que deixou a desejar dentre muitas obras desse mestre gnóstico. Quem saberá,
nos dias de hoje, o que ele queria dizer em meio a tanto mistério? O mesmo Samael que atacava os ocultadores, dizia também que a Bíblia era gnóstica e para gnósticos (um verdadeiro jogo de "quem oculta o quê"). Nessa obra, Samael adotou um discurso bem pessoal (atacando abertamente Papus, a AMORC da Califórnia, entre outros) e um tanto maniqueísta para quem supostamete trabalha pela Via Esquerda (a magia sexual). Samael descreve "Belzebu amansado", arrependido e regenerado, como se fosse um desses pobres diabos do nosso mundo atual que fazem de tudo errado e depois convertem-se cristãos na maior cara-de-pau. Samael tinha a equivocada visão de Bem e Mal sobre Magia Branca e Magia Negra, respectivamente. Os não-teurgos também praticam magia sexual; será tão diferente do maithuna dos gnósticos tântricos? Não há o que segmentar. Os que caminham na Via Esquerda sabem exatamente que Magia não tem cor, mas intenção: não é Magia Branca ou Negra, mas sim escrupulosa ou inescrupulosa! É estranho que um espiritualista como Samael não tivesse consciência do mal que fazia ao lançar tantas dicotomias. Atacar Papus dessa forma, fragmentar a Magia como ele fez, só faz gerar mais confusão do que a já instalada entre os buscadores do conhecimento mágicko.

Como pode-se dizer que Belzebu, ninguém mais que Baal que era um deus da criação, poderia ter orgão kundartiguador*? Se Belzebu praticasse magia sexual corrompida, como poderia ser um deus da fertilidade? Todos os deuses têm a sina de ser a "imagem e semelhança" do homem? Nem todo pobre diabo tem cauda e asas, mas os dragões têm! Tinha chifres porque eles representavam não só sua soberania mas principalmente seu maior poder: o da fertilidade!
Certamente, Belzebu não era o celerado arrependido conforme descrito n'A Revolução de Belzebu. Para piorar ainda mais, Samael põe Lúcifer como incitador de Jeová à fornicação. Mentira! Jeová era o maior fornicador chauvinista nato! Tudo isso acontece até hoje, e por causa da falta de qualidade das traduções dos textos sagrados - mas este é tema para a Linguística.

O antigo e poderoso Baal canaaíta teve sua derrocada quando alguém acusou sacerdotes judeus de praticar cultos de prostituição sagrada em seu nome. Sob esta ótica, quem é o kakodaemonos" senão o homem? De quem é o espírito corrompido, sujo e promíscuo, senão de um sacerdote que promove "orgias sagradas"?! Seriam mesmo orgias ou prática de magia sexual? Desde longa data
não há mais testemunhos confiáveis sobre o assunto.

Posteriormente ele teve seu nome e importância completamente atirado ao lixo Foi na Bíblia que ele passou a ser chamado de Belzebu, de Senhor das Moscas. Os cristãos passaram a dizer que o "seu Deus" criou todas as coisas e criaturas, menos as moscas. Diziam ainda que quando invocado por magos e feiticeiros, aparecia em forma de mosca. Belzebu foi ainda mais dilacerado
pelas infinitas injúrias judaico-cristãs e de quem mais pudesse interessar.

Belial foi outro correspondente canaaíta de Baal. Segundo a mitologia que fala da queda (ou descida, melhor dizer) dos anjos, é contado que foi Belial quem encorajou Lúcifer a descer com a Chama da Sabedoria. Até por esta razão Anton La Vey traduziu seu nome como "Sem-Mestre" e classificou-o como um espírito ou deus da fertilidade e da prosperidade e considerava-o um
espírito do elemento Terra. O fato é que Belial também tem as mesmas referências remotas de Belzebu, sendo apontado como semelhante e algumas delas como o próprio Baal. A etimologia de Beli-ya´al (beli = sem, ya´al = Deus, ou ainda, bom e próspero). Trata-se de mais um arquétipo riscado pela ganância monoteísta.

Muitos deuses foram tomados por dimensões demoníacas errôneas, como espíritos malévolos. Nada contra demônios, mas a maioria destes que por aí estão, não são apenas demônios, são divindades que presidiam e organizavam a complexidade da alma humana. Tendo em vista tantas traduções errôneas ou tendenciosas dos evangelhos, melhor começar a tomar cuidado com o que lemos nas escrituras sagradas judaico-cristãs. É nítida a intenção de esconder a boa reputação dos antigos espíritos e dar-lhes reputações depreciativas. Coincidentemente, o "erro de tradução" sempre implica em algo ruim, nunca respeitoso, bom, ou, no mínimo, isento. Os demônios, seja qual for sua natureza, fazem-nos mais fortes porque mostram-nos as nossas fraquezas em vez de iludir-nos com promessas divinas que aliciam nossas vaidades. Ninguém
fala da "ira marcial" do Deus cristão, da "luxúria" do deus Jeová, da tirania" de Alá ou da "perversão temerária" de Abraão que não teve dúvida em oferecer a vida de seu primogênito em sacrifício. Com esse "show de maldade" quem precisa de demônios ou de Diabo?

Antes que as Bíblias e outras escrituras deturpadas enterrem toda a tradição e nos emburreçam, lembremo-nos da história diferente sobre Baal e de muitos outros demônios dotados de virtudes divinas.


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Texto de Sor.'. S. Shakti, recebido via email.