12.7.09

Realidade Virtual, Drogas Psicodélicas e o futuro do Cinema

Oras, Fly sempre me surpreende. Com essa boa indicação de blog, descobri na primeira postagem aparente um conceito cinematográfico que me vinha de muito antes de entrar numa faculdade de Cinema.
Basicamente ele está reunido nesse texto - eu apenas não usaria fáustico e prometéico, mas isso não desmerece, ao contrário, instiga - e portanto mesmo o Fly tendo acabado de postar sobre o Ayakamanakam, eu repetirei - e espero fazer isso sempre, desde que com algum motivo.

Por favor, cineastas, entusiastas, literatos, artistas e drogados. Leiam esse texto. E afinal, já que não possuo a capacidade de criar tal Realidade Virtual, trabalherei no cinema enquanto posso. Afinal atualmente essas novas ideias vem carregadas infelizmente de algo trágico para a Arte: altos preços de mercado.

Programadores, hackers, artistas visuais e astrônomos, por favor, trabalhem nisto. Quanto aos psicoativos e enteógenos, políticos, ativistas e POVO, liberem! Legalizem! Estudem a mente humana tanto quanto suas manias humanas ordinárias.

Ademais, fiquem com o texto, já escrevi demais. E ao autor do blog citado, o qual não conheço há mais de 30 minutos, parabéns e continue com o seu ótimo trabalho. (Sim, tentarei entrar em contato apenas para parabenizá-lo, mas gostaria de deixar explícito aqui, abertamente).



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Uma Tecnociência de vocação Fáustica é aquela cuja meta consiste em ultrapassar a condição humana. Considera o corpo humano orgânico um estágio da evolução a ser superado. Enquanto isso uma Tecnociência de vocação Prometéica pretende dominar tecnicamente a natureza, mas não superar a ela tornando-a obsoleta. Essas duas Tecnociências foram chamadas de Fáusticas e Prometéicas como referência aos mitos de Fausto e Prometeu, que funcionam como alegorias sobre a forma como pensam e agem as linhas de pensamento que são influenciadas pela tradição fáustica ou pela prometéica.

As ferramentas e saberes Prometéicos buscam sempre o aperfeiçoamento do corpo, contudo elas não visam a sua transcedência. Respeitam e não pretendem ir além dos limites impostos pela natureza humana, sejam eles sensoriais ou a níveis de conhecimento e consciência. Na visão Prometéica esses artefatos técnicos são vistos como meras extensões ou amplificações das capacidades inerentes ao corpo humano. Já sobre o ponto de vista Fáustico, esses procedimentos científicos não visam a verdade da natureza íntima das coisas mas somente a compreensão dos fenômenos para exercer previsão e controle sobre a natureza. A Tecnociência conteporânea busca ultrapassar todas as limitações biológicas ligadas a materialidade do corpo humano e por isso se chegou a conclusão que a filosofia da Tecnociência conteporânea está incluida em uma linha de pensamento de tradição Fáustica.

Assim é o mito do Cinema total, um idealismo que busca transceder todas as limitações tecnológicas do cinema em prol de um Cinema como experiência integral da realidade. Isso significava não apenas transceder as limitações técnicas da época mas também transceder as condições do estar no mundo do homem. A proposta era trocar a sua experiência do agora no espaço-tempo da realidade física externa pela experiência do agora no espaço-tempo dinâmico da realidade “intrafílmica” ou cinematográfica. Puro Fausto!

Mas isso era sonhar muito alto para uma realidade onde o máximo que se tinha conseguido era a representação de um sentido apenas, o da visão. Mesmo assim era uma reprodução parcial pois nem cor havia. Os fáusticos primeiro trabalharam juntos com os prometéicos e extrapolaram os limites da linguagem cinematográfica dentro dos limites técnológicos, em seguida os fáusticos pintaram seus fotogramas enquanto os prometéicos achavam aquilo uma bobagem de vanguarda. Quando finalmente chegou a cor, os fáusticos abriu os braços para ela, enquanto os prometéicos se manteram conservadores e fiéis a sua filosofia do preto e branco, considerando a cor uma maculação de uma arte já estabelecida e assim foi com o som, com a manipulação da percepção, da consciência, do espaço e tempo linear e até mesmo com o óculos 3d verde e vermelho.

Contudo ao atingir esse grau de sofisticação o cinema sofreu uma espécie de estagnação prometéica onde o que já havia sido conquistado parecia o suficiente. É claro que mesmo em períodos de estagnação fáusticas, as mentes fáusticas subversivas estão trabalhando. Como é o caso do Mestre John Waters , que para as exibições de seu filme “Polyester” nos cinemas fez com que fossem distribuídos nas entradas, cartelas e mais cartelas do infame Odorama, uma rapasdinha que vc deveria raspar de acordo com determinado momento do filme liberando um cheiro que funcionava como elemento pertencente a diegese do filme. Inocente mas uma tentativa honesta e subversiva do senso comum que buscava reviver o mito do cinema total através de dois sentidos pouco explorados pelo Cinema, olfato e tato.

André Bazin falou que o Cinema ainda precisava ser inventado, ele podia estar se referindo ao mito do cinema total que não pode ser realizado da forma como foi imaginado. A Realidade Virtual no entanto se mostrou como uma nova possibilidade de realização do velho mito. A Realidade Virtual é uma técnica que através da estimulação dos sentidos busca alterar sua consciência trocando o holograma da realidade consensual gerado pelos extímulos externos pelo holograma do ambiente proposto pelo programador. De natureza fáustica a RV eleva o conceito de imersão ao extremo, assim como eleva o grau de interação do espectador que agora não está mais assistindo o filme, ele está no filme e pode interagir com a realidade ao seu redor, melhor, ele está na trama. Mesmo na RV ele poderia estar somente como espectador, mas não, lá ele faz parte da trama e é um personagem dela.

Contudo não pode ficar só nisso ou cairá na estagnação prometéica. A RV ainda não oferece a total transcendência da consciência em relação a matéria uma vez que é necessário o estímulo/interação entre o corpo físico e o holograma experimentado como real. Isso significa que mesmo que o eu esteja experimentando a RV, o eu ainda é uma consciência operando um corpo físico em um espaço 3d e não pura consciência livre e dinâmica experimentando uma dimensão paralela criada artísticamente, talvez uma dimensão chamada TAO onde roteiro se chama destino.

Na tradição hindu, nós possuímos dois terços do controle sobre o nosso destino. Um terço está nas coisas que não podemos mudar. O passageiro do Titanic podia vestir o colete de salva vidas ou tocar violino, mas ele não podia arrancar o iceberg e nem esquentar a água. O superman podia até juntar o navio partido, mas se o lex luthor tivesse escondido kriptonita no porão mudar isso estaria além das suas alternativas. Enfim 2/3. E assim seria na RV ideal, a consciência livre tem o total controle de seu destino, exceto das coisas que ela não pode mudar. As coisas que ela não pode mudar é o roteiro. O roteiro precisa ser tão dinâmico como esse exemplo, pois dependendo das leis que regem o universo do ambiente virtual criado, se e eu der um tiro pro alto está além das minhas alternativas evitar que a bala caia e que ela gere uma sequência de eventos que cedo ou tarde retorna até mim, Karma.
Para chegar até esse grau de evolução eu precisaria de uma tecnologia que deslocasse a consciência do sujeito para dentro da realidade virtual, não dependendo do corpo físico para interagir com o outro lado. Corpo esse que para o observador externo pareceria estar dormindo. Nesse modelo de RV tudo é controlado pela consciência através do intento e a realidade virtual se confundiria com a realidade interna do sujeito, não havendo cortes nem limites entre elas. Um belo desafio para o programador.

Hoje essa transcendência da consciência em relação ao corpo físico pode ser obtida através de tecnologias primitivas como as substâncias psicodélicas. O uso de plantas psicodélicas com alcalóides ou diterpenos psicoativos como Salvia Divinorum e as plantas que contém DMT, assim como doses eficazes de LSD ou Psilocibina promovem essa transcendência assim como abrem o acesso ao plano mental. Um dose mínima fumada em um cachimbo de um Extrato concentrado de Salvia Divinorum, por exemplo, te atira de imediato nos hologramas do plano mental sem transições.

Nessa Realidade Virtual Natural os roteiristas são as forças psíquicas que atuam na sua mente e a matéria prima utilizada são todos os estímulos registrados por seu cérebro no decorrer da sua experiência de existir. Entrar no Plano Mental provoca a mesma sensação que entrar na realidade virtual. O senso comum visualiza entrar na RV/PM como literalmente entrar em um lugar, mas a verdade é que esse é um portal onde os dois lados dão para o lado de fora. Na verdade não há dualidades entre o Plano Mental e a Realidade Consensual, e se fosse possível atuar na realidade física externa com segurança enquanto se está no plano mental, este seria nosso estado natural de consciência.

A conclusão que chego é que a RV pode realizar o sonho do mito do Cinema total e que a experiência psicodélica é um excelente laboratório para se atingir essa meta. Por isso recomendo fortemente que para permanecerem fáusticos os programadores devem ficar doidões.

Texto recebeu nota 9 no curso de Teoria do Cinema."


Novamente lembrando, do blog Ayakamanakam.


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