“É difícil entender a situação de Cuba partindo da lógica que vigora no Brasil. Em Cuba, a lógica é outra. Não envolve gastos, nem custos”, disse, comparando os cursos de medicina cubano e brasileiro. Segundo ele, a lógica do mercado de trabalho e da economia em Cuba é outra. A prioridade do Estado é a questão social, e a formação dos médicos é para atender esta demanda social, o que explicaria o fato de os médicos do país não serem ricos para padrões internacionais.
“O médico cubano é formado pelo Estado sem pagar um tostão. Mas estamos falando de um país de terceiro mundo onde a lógica da saúde não segue a mesma lógica de mercado que há no Brasil. O médico pode até não ganhar muito dinheiro, mas se ele tiver três filhos, por exemplo, não vai ter nenhum gasto com eles relacionado a saúde, educação e alimentação. O que ele ganha é livre”, disse.
“No Brasil, o cara que quiser estudar medicina tem que gastar em cursinhos para entrar na universidade pública ou pagar uma particular. Tem gastos para comprar livros, para viver, se alimentar para se manter durante todos os anos de estudo. Tudo é muito caro durante a formação. Então a situação após o curso também é diferente. Em Cuba o médico tem uma função social, e não individual. Não existe o mercado da saúde pública.”
Martins não nega que haja dificuldades no país, mas responsabiliza o bloqueio norte-americano pelos problemas econômicos de Cuba e diz que nada é tão ruim quanto algumas pessoas do Brasil, que têm uma visão deturpada da realidade. “Cuba vive um bloqueio de mais de 50 anos, e isso é cruel, restringe Cuba de ter acesso e medicamentos, material para diagnóstico e todos os produtos que são produzidos por empresas que tem investimentos norte-americanos. Isso dificulta a dar uma atenção mais adequada.” Isso, diz, sem que o país deixe de ter excelência em seu sistema de saúde.
Demorou três anos para que Martins deixasse de lado a sensação de ser um turista e passasse a se sentir um morador de Cuba. Ele estudava física no Brasil, e viajou à ilha após um processo de seleção para ser estudante de medicina. O pernambucano torce pelo Sport e contou que joga futebol com outros brasileiros com quem convive, mas que já torce por um time de beisebol, esporte mais popular no país, o Santiago de Cuba.
Segundo um levantamento dos postos consulares do Ministério das Relações Exteriores, cerca de mil brasileiros vivem em Cuba atualmente. Segundo Martins, no grupo com quem convive em Havana há gente de vários estados, incluindo pernambucanos, baianos e paulistas.
Uma das coisas que diz que mais facilita no processo de mudança para Cuba é a afetividade do povo, que é solidário e dão apoio. “A gente vai conhecendo as pessoas, forma laços afetivos e cria novas famílias. A gente se envolve muito com os cubanos e eles são muito acolhedores. Isso acaba sendo um motivador.”
Em sua defesa do sistema cubano, Martins volta diversas vezes a mencionar que a visão que se tem da vida em Cuba é deturpada, e conta que ouve muitas perguntas no Brasil que soam preconceituosas. “Tem gente que pergunta se em Cuba tem computador e internet”, diz, respondendo imediatamente que sim e contando até que acompanha o futebol brasileiro, e assiste a jogos como a final da Copa do Brasil vencida pelo seu time em 2008 pela web.
“Nunca me faltou comida, mas claro que criamos demandas novas. Muita gente pensa que Cuba é um país completamente fechado, mas não é assim. Cuba é um país aberto, o povo cubano é amigo. Cuba tem tudo que o Brasil tem. Não é uma coisa de outro mundo, mas é um país de terceiro mundo que garante a todos, mesmo aos estrangeiros que estudam lá, todo o essencial para minha sobrevivência. O que eu quiser fora o básico é um problema meu.”
Analisando a política cubana, foco de atenção internacional desde que Fidel Castro se afastou do poder por questões de saúde, Martins nega que haja um colapso do sistema e diz que Cuba mantém o rumo. “Fidel está vivo e segue guiando o povo cubano com suas reflexões publicadas no jornal. Ele continua sendo o grande líder da revolução e do país. E isso vai continuar mesmo se Fidel morrer.”
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Texto retirado integralmente do portal G1. Vale muito a pena lê-lo integralmente para desmistificar certos mitos e preconceitos com a ilha que apesar de ser uma ditadura - ninguém passa fome nem dorme na rua.