O Nine Inch Nails é um dos projetos musicais mais instigantes de que se tem notícia; fato. O poder das composições do líder\único membro da "banda", Trent Reznor, são de uma eficiência impiedosa; seu som, indescrítivel e definitivamente não-rotulável. Dito isso, resta esclarecer que o NIN não é uma banda de rock em sua clássica definição, com várias pessoas ocupando determinadas posições e empunhando determinados instrumentos. Nos estúdios, Trent, multi-instrumensta de inegável talento, controla todas as linhas de produção: toca guitarra, bateria, baixo e acrescenta sons eletrônicos para construir e desconstruir a narrativa das canções. Após o processo de gravação, são chamados músicos para compor a banda que atua nos palcos e que acompanham Trent durante as turnês.
A história do Nine Inch Nails começa com Trent empregado em um pequeno estúdio de mixagem chamado Right Track Studios; como já trabalhava em algumas canções próprias, pediu permissão ao dono do estabelecimento Bart Koster para trabalhá-las usando os apetrechos eletrônicos disponíveis em seu tempo de folga. Reznor chamara alguns músicos amigos para ajudá-lo na execusão das melodias, mas, não aprovovando o trabalho, decidiu por si próprio articular as composições. O resultado pode ser encontrado em várias faixas de seu álbum de estréia, Pretty Hate Machine, de 1989.
O que torna o NIN uma banda tão singular no cenário musical reside no fato de Reznor empreender uma verdadeira avalanche de sons extremamente bem-pensados em suas canções. Não são sons aleatórios, ou mesmo uma "limpeza" proposital feita com intuito de ajudar na aceitação comercial. Trent joga com referências o tempo todo e as torna propriedade exclusiva sua, criando climas diferenciados que idem atigem o espectador de forma distinda em cada audição. Você pode encontrar resíduos de Pink Floyd, de Joy Division, de Ministry e de Skinny Puppy(principalmente estas duas últimas).
Neste álbum em questão, With Teeth, de 2005, pode-se dizer que há uma essência de todo o trabalho do NIN feito até então: estão aqui o ainda influenciado Reznor do primeiro álbum, o raivoso e agressivo Reznor de Broken, o maníaco-obsessivo-depressivo (e outros ismos similares)Reznor de Downward Spiral, e, chegando a um auge de um potencial de experimentalismo em The Fragile, o álbum anterior. Um álbum mais palátavel e de fácil digestão, diriam alguns. Concordo e discordo. Concordo com o fato de que With Teeth é um álbum mais "fácil" de se ouvir; mais prazeroso para um ouvinte não-iniciado. E ao mesmo tempo discordo quando há o conceito pejorativo de se afirmar que é um álbum comercial. Coisa que não é, definitivamente. Trent Reznor nos apresenta um trabalho de sublime perfeição, desde a esmerada composição de letras, até a impecável execução de cada instrumento e som\barulho eletrônico climático. Talentossísmo compositor, Reznor entrega-se completamente quando da formação de suas canções; impossivel não sentir um arrepio tremendo nos pêlos pubianos ao ouvir músicas como "Love Is Not Enough"[NOOT!!]; "Getting Smaller", um industrial básico e contagiante; as lindíssimas "Home" e "Rith Where It Belongs"; e as porradas "You Know What You Are", "Everyday Is Exactly The Same" e "The Hands That Feeds".
É de fato tarefa das mais árduas tentar explicitar o som produzido pelo NIN em uma ou mais vertentes e estilos. Tentar compreender o abstrato conceito de "Industrial" talvez seja o mais acertado: pense em uma indústria do final do século XIX, toda aquele clima angustiante, sufocante, todo o peso e, ao mesmo tempo, uma aura depressiva.
Sem jamais ter feito parte da playlist das rádios estadunidenses (ou de qualquer outro país) - exceção talvez para as músicas Closer e Hurt, ambas de Downward Spiral (1994) - , mas figurando em toda e qualquer pesquisa que aponte as maiores influências da música atual, não chega a surpreender que Reznor tenha ficado decepcionado, para não dizer puto, com os desdobramentos advindos de sua música(de filões em sua maioria inúteis como os Linkin Parks da vida). Neste caso, o que fazer? Voltar ao ponto zero, dar tapa com luva de pelica, caminhar na contramão, buscando o essencial, isto é, a crueza do primeiro disco. "Will you bite the hand that feeds?", provoca Reznor em The Hand That Feeds, primeiro single de With Teeth. Quem acompanha a trajetória do Nine Inch Nails sabe que Reznor não tem pudor algum em admitir que sim, ele se volta contra quem o colocou ali no topo não uma, mas inúmeras vezes, ao jamais ser previsível e dizer tudo o que precisa ser dito.
Outra hipótese resulta das letras de With Teeth. Letrista talentoso, Reznor expõe como poucos o amontoado de sentimentos que carrega na alma. Por conta disso, criou-se para ele um estereótipo de artista problemático. O que pode ser visto apenas como coragem (algo raro e que atualmente pode chocar), acabou se tornando uma marca nem sempre bem-vinda do Nine Inch Nails, que não poucas vezes é tachado de banda depressiva. Eu poderia perder horas defendendo a importância da força proporcionada por se encarar sentimentos carentes de beleza de frente na recuperação de uma depressão, mas essa resenha não está sendo escrita em um consultório psiquiátrico.
Pois bem, considero o Nine Inch Nails uma das bandas que definitivamente mudaram o meu modo de encarar as coisas. E sem dúvida divide o posto de "minha-banda-favorita" com outra banda da qual procurarei falar em algum posto no futuro. Pioneiro em diversos segmentos(poderia perder linhas e mais linhas com isso), Reznor estralhaça nossos ouvidos, mentes, corações com um discaço. Na humilde opinião desse escrevinhador, um dos melhores da década. Senão o melhor, um clássico moderno.
1. "All The Love In The World"
2. "You Know What You Are?"
3. "The Collector"
4. "The Hand That Feeds"
5. "Love Is Not Enough"
6. "Every Day Is Exactly The Same"
7. "With Teeth"
8. "Only"
9. "Getting Smaller"
10. "Sunspots"
11. "The Line Begins To Blur"
12. "Beside You In Time"
13. "Right Where It Belongs"