21.10.09

Mclusky - Mclusky Do Dallas

fábio: estreia do novo colaborador do Barco Bêbado, André Fernando Sturmer, o nosso Nando.

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Se há algo que me causa revolta na música - especialmente no rock - feita nesta última e infame década é a profunda deturpação\colorização\status-quo indie que diversas bandas com orgulho ostentam. Em outras palavras, a "música" ou "a mais nova banda da semana que eu conheço e os outros não conhecem" serve apenas como pretexto para criar identidade, exibir-se perante os outros, um cacoete para a auto-promoção e para o comportamento de manada. Penso que o indie passou de uma atitude musical sincera no início[strokes, libertines..] para uma certa elitização modista altamente supérflua; basta notar a quantidade de bandas que se dizem fazedoras de "rock" pipocando por aí. Portanto, quando surgem pessoas dispostas a destoar desse cenário de lugar-comum e fugir para meios mais inseguros, fazendo música honesta, sincera e verdadeira, há de se louvar a iniciativa.

Fiz deste extenso parágrafo de introdução uma espécie de desabafo pessoal; maaas também para apresentá-los para três sujeitos simpáticos que bem cabem na descrição feita acima de "pessoas dispostas a destoar...": Mclusky!

Donos de um rock que impõe respeito pela confusão de sons, pela sujeira lasciva, pelas letras cobertas de sarcasmo e deboche e por um desleixo impecável na hora de construir suas melodias, Mclusky é uma banda formada no País de Gales em 1998. Impressiona também o homem que apostou neles: Steve Albini, mestre-mor quando o assunto é sujeira, podreira e seus congêneres estilísicos. E inteligência. Basta citar que Albini produziu Surfer Rosa, do Pixies, In Utero do Nirvana e o último do Stooges; além de contar com uma banda que é amplamente cultuada no espaço underground norte-americano, o Shellac.

Albini percebeu o potencial dos três rapazes e os chamou para gravar o álbum presente nesse post: Mclusky Do Dallas. O resultado é um disco repleto de uma veia punk há muito perdida e\ou esquecida no mainstream e só cultuada em becos escuros e botecos mal-cheirosos frequentados por religiosos underground que sacam o espírito da coisa e resolvem se afastar disso. Mas enfim, voltemos ao álbum em questão: a sonoridade, explosiva e densa, soa desleixada. De forma intencional ou não, relampeja em meio à riffs que trepam em sua memória e fazem você assoviar o dia inteiro canções carregadas de batidas rápidas e desconcertantes que são bem acompanhadas por uma linha de baixo extremamente excêntrica e maravilhosamente desordenada. A voz de Andy Falkous é de uma variação interessante: rasteja em alguns pontos de calmaria, mas sabe que está ali mesmo para estourar as cordas vocais em cantos grotescos.

O deboche vem do início do harcore, evocando um bem recebido Dead Kennedys, aliado também aos reis do escracho nos "anais" da música alternativa estadounidense, Butthole Surfers. Soa como um Pixies desordenado e distorcido. Soa como um Sonic Youth mais punk. E, obviamente, tem algo também de Shellac. Um disco para se ouvir de cabo a rabo, sem parar para respirar e imitando uma guitarra imaginária enquanto soca sua boneca inflável favorita sem remorso.


1 - "Lightsabre Cocksucking Blues"
2 - "No New Wave No Fun"
3 - "Collagen Rock"
4 - "What We've Learned"
5 - "Day of the Deadringers"
6 - "Dethink to Survive"
7 - "Fuck This Band"
8 - "To Hell with Good Intentions"
9 - "Clique Application Form"
10 - "The World Loves Us and Is Our Bitch"
11 - "Alan is a Cowboy Killer"
12 - "Gareth Brown Says"
13 - "Chases"
14 - "Whoyouknow"