30.10.09

'Cartas a Theo', de Van Gogh

É fato conhecido que Vincent Van Gogh viveu boa parte da sua vida - a artística - sob condições adversas, dos bens de seu irmão Theo. Também, por ser costume da época, mandou diversas cartas. Vincent não é um literato puro, mas deixou nessas cartas uma vastidão de sabedoria e beleza em versos fortes e singelos.
Sei que no Brasil está para vender o livro 'Cartas a Theo' (o nome já se explica), mas prefiro o site VanGoghLetters.org - que tem todas as cartas do gênio em seu original.

Mas trago, também, trechos dessas cartas.



Janeiro de 1882

“Mas você pode estar certo, Théo, que quando fui pela primeira vez à casa de Mauve com meu desenho feito a pena e que Mauve me disse: - Você deveria tentar trabalhar com carvão, com pastel, com pincel e com esfuminho – Eu tive tremendas dificuldades para trabalhar com este material novo. Fui paciente e isto não parecia me ajudar em nada, então às vezes perdia a paciência a ponto de pisotear meu carvão e perder toda a coragem.”


Abril de 1882


“É uma coisa admirável olhar um objeto e acha-lo belo, pensar nele, retê-lo, e dizer em seguida: Vou desenha-lo, e trabalhar então até que ele esteja reproduzido. Naturalmente, contudo, esta não é uma razão para que eu me sinta satisfeito com minha obra a ponto de acreditar que não precisaria melhora-la. Mas o caminho para fazer melhor mais tarde é fazer hoje tão bem quanto possível, e então naturalmente haverá progresso amanhã.”



Novembro de 1885 – Fevereiro de 1886

“Com tudo prefiro pintar os olhos dos homens, mas que as catedrais, pois nos olhos há algo que nas catedrais não há, mesmo que elas sejam majestosas e se imponham, a alma de um homem, mesmo que seja um pobre mendigo ou uma prostituta, é mais interessante a meus olhos.”

(...)

“Já desenhei duas tardes lá, e devo dizer que acredito que, justamente para fazer figuras de camponeses, é muito bom desenhar à antiga, sob a condição, com tudo, de que não se faça como de hábito. Os desenhos que vejo, na verdade acho-os todos fatalmente ruins e radicalmente fracassados. E sei muito bem que os meus são totalmente diferentes: O tempo dirá quem está certo.”



Verão de 1887

“E me ocorre sentir-me já velho e fracassado e com tudo ainda suficientemente apaixonado para não ser um entusiasta da pintura. Para ter sucesso é preciso ambição, e a ambição me parece absurda. Não sei o que será, gostaria especialmente de viver menos as suas custas – e doravante isto não é impossível -, pois espero fazer progressos de forma que você possa, sem hesitações, mostrar o que faço sem se comprometer.”


Outubro de 1888

“Sinto em mim a necessidade de produzir até estar moralmente esmagado e fisicamente esvaziado, justamente porque não tenho nenhum outro meio de chegar a participar das despesas.”



Julho de 1890

“Pois bem em meu próprio trabalho arrisco a vida e nele minha razão arruinou-se em parte.”