Ainda não saímos do tempo dos traficantes de escravos. Nos transportes públicos que lançam uns contra os outros com uma indiferença estatística, as pessoas assumem uma expressão insuportável de decepção, de altivez e de desprezo - uma expressão muito parecida com o efeito natural da morte numa boca sem dentes. O ambiente de falsa comunicação faz de cada um o policial de seus próprios conflitos. O instinto de fuga e de agressão segue a trilha dos cavaleiros do trabalho assalariado, que devem agora contar com os ônibus, metrôs e trens suburbanos para fazer suas lamentáveis viagens. Se os homens se transformaram em escorpiões que picam a si mesmos e aos outros, não será afinal porque nada aconteceu e os seres humanos de olhos vagos e cérebro murcho se tornaram misteriosamente sombras de homens, fantasmas de homens e, até certo ponto, nada têm de homens além do nome?
Raoul Vaneigem
Post Scriptum: novamente uma postagem do
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